Índice nacional cresce apenas 0,1, mas cai em nove estados
Mariana Mandelli
Lucas Rodrigues
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ensino Médio, calculado por amostragem, permaneceu praticamente estagnado em 2011. Com um crescimento de apenas 0,1 – o mesmo aumento desde que o índice começou a ser calculado, em 2005 –, o Ideb da etapa que encerra a Educação Básica chegou a 3,7, atingindo a meta proposta pelo Inep. O índice reúne os dados de desempenho e fluxo escolas da rede pública e da rede privadas.
No entanto, apesar de ter alcançado a marca, o Ideb do Ensino Médio caiu em nove estados em relação a 2009. São eles: Acre (de 3,5 para 3,4); Pará (de 3,1 para 2,8, a nota mais baixa do País); Maranhão (de 3,2 para 3,1); Paraíba (de 3,4 para 3,3); Alagoas (de 3,1 para 2,9); Bahia (de 3,3 para 3,2); Espírito Santo (de 3,8 para 3,6); Paraná (de 4,2 para 4,0) e Rio Grande do Sul (de 3,9 para 3,7).
Distrito Federal (3,8), Mato Grosso do Sul (3,8), Minas Gerais (3,9), Sergipe (3,2), Rio Grande do Norte (3,1) e Rondônia (3,7) mantiveram, para 2011, o mesmo índice de 2009.
O maior Ideb do País para o Ensino Médio é de Santa Catarina, com 4,3. Além do estado do sul, São Paulo (4,1) e Paraná (4,0) são os únicos com o índice acima ou igual a 4,0. Os maiores crescimentos foram em Goiás (de 3,4 para 3,8) e Rio de Janeiro (de 3,3 para 3,7).
Abaixo, veja a evolução do Ideb dessa etapa de ensino desde 2005:
Unidade da Federação | Ideb 2005 | Ideb 2007 | Ideb 2009 | Ideb 2011 | Meta Ideb 2011 |
Brasil | 3,4 | 3,5 | 3,6 | 3,7 | 3,7 |
Região Norte | 2,9 | 2,9 | 3,3 | 3,2 | 3,2 |
Rondônia | 3,2 | 3,2 | 3,7 | 3,7 | 3,5 |
Acre | 3,2 | 3,5 | 3,5 | 3,4 | 3,5 |
Amazonas | 2,4 | 2,9 | 3,3 | 3,5 | 2,7 |
Roraima | 3,5 | 3,5 | 3,4 | 3,6 | 3,8 |
Pará | 2,8 | 2,7 | 3,1 | 2,8 | 3,1 |
Amapá | 2,9 | 2,8 | 3,1 | 3,1 | 3,2 |
Tocantins | 3,1 | 3,2 | 3,4 | 3,6 | 3,4 |
Região Nordeste | 3,0 | 3,1 | 3,3 | 3,3 | 3,3 |
Maranhão | 2,7 | 3,0 | 3,2 | 3,1 | 3,0 |
Piauí | 2,9 | 2,9 | 3,0 | 3,2 | 3,2 |
Ceará | 3,3 | 3,4 | 3,6 | 3,7 | 3,6 |
Rio Grande do Norte | 2,9 | 2,9 | 3,1 | 3,1 | 3,2 |
Paraíba | 3,0 | 3,2 | 3,4 | 3,3 | 3,3 |
Pernambuco | 3,0 | 3,0 | 3,3 | 3,4 | 3,3 |
Alagoas | 3,0 | 2,9 | 3,1 | 2,9 | 3,3 |
Sergipe | 3,3 | 2,9 | 3,2 | 3,2 | 3,6 |
Bahia | 2,9 | 3,0 | 3,3 | 3,2 | 3,2 |
Região Sudeste | 3,6 | 3,7 | 3,8 | 3,9 | 3,9 |
Minas Gerais | 3,8 | 3,8 | 3,9 | 3,9 | 4,1 |
Espírito Santo | 3,8 | 3,6 | 3,8 | 3,6 | 4,1 |
Rio de Janeiro | 3,3 | 3,2 | 3,3 | 3,7 | 3,6 |
São Paulo | 3,6 | 3,9 | 3,9 | 4,1 | 3,9 |
Região Sul | 3,7 | 3,9 | 4,1 | 4,0 | 4,0 |
Paraná | 3,6 | 4,0 | 4,2 | 4,0 | 3,9 |
Santa Catarina | 3,8 | 4,0 | 4,1 | 4,3 | 4,1 |
Rio Grande do Sul | 3,7 | 3,7 | 3,9 | 3,7 | 4,0 |
Região Centro-Oeste | 3,3 | 3,4 | 3,5 | 3,6 | 3,6 |
Mato Grosso do Sul | 3,3 | 3,8 | 3,8 | 3,8 | 3,6 |
Mato Grosso | 3,1 | 3,2 | 3,2 | 3,3 | 3,4 |
Goiás | 3,2 | 3,1 | 3,4 | 3,8 | 3,5 |
Distrito Federal | 3,6 | 4,0 | 3,8 | 3,8 | 3,9 |
Fonte: Inep.
Para Wanda Engel, especialista em Ensino Médio, o crescimento pífio do Ideb reflete os problemas do segundo ciclo do Ensino Fundamental. “O Ensino Médio é a soma de deficiências que o aluno adquiriu nos anos anteriores”, analisa. “Temos um problema já no final do Fundamental, quando o jovem tem mais de um professor, e muitos desses professores têm baixa formação”.
Segundo ela, se o País continuar nesse ritmo, essa etapa de ensino só atingirá o Ideb 6,0 (média equivalente ao nível dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2057. “O Ensino Médio é absolutamente fundamental para os destinos da nova geração e do Brasil. Hoje, nós estamos vivendo um enorme desemprego juvenil e um enorme apagão de mão de obra por conta dessa etapa de ensino. É preciso intervir nele ontem”, afirma.
Pela legislação brasileira, são os estados os principais responsáveis por oferecer o Ensino Médio às populações. De acordo com o Inep, a rede estadual participa com mais de 97% da matrícula na rede pública.
Observando o Ideb apenas da rede estadual – ou seja, descartando a nota das escolas particulares, o índice para 2011 foi de 3,4 – o mesmo de 2009.
Apesar de vinte estados alcançarem a meta proposta para 2011, a rede estadual registra desempenho no Ideb inferior a 3,0 em seis deles: Pará (2,8); Piauí (2,9); Paraíba (2,9); Rio Grande do Norte (2,8); Sergipe (2,9) e Alagoas (2,6), com o índice mais baixo. Alagoas foi um dos estados que mais sofreu com greves na rede estadual 2011, afetando 350 mil alunos.
O Ideb da rede privada – que participa com 12% da matrícula no ensino médio – alcançou 5,7. A média é 2,3 pontos acima da rede pública. No entanto, as escolas particulares ainda ficaram abaixo da meta, que era de 5,8. Além disso, este é o primeiro ano em que a rede demonstrou aumento. Em 2005, 2007 e 2009, o índice foi de 5,6.
Gargalos
Francisco Soares, especialista em avaliação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), ressalta a urgência das políticas públicas colocarem foco na situação do Ensino Médio. “Temos um sinal verde para os anos inicias do Ensino Fundamental, amarelo para os anos finais e vermelho para o Médio”, afirma. “Um índice de 3,7 é muito baixo.”
Soares ainda lembra que o baixo desempenho dos alunos que se formam no Ensino Médio pode se refletir no Ensino Superior. “É uma situação muito preocupante, ainda mais agora, com a lei dizendo que esses alunos serão admitidos na Educação Superior”, explica ele, citando o projeto de lei aprovado no Senado que garante 50% das cotas em universidades e institutos federais para alunos oriundos de escolas públicas. “A universidade não dá conta de consertar o que a Educação Básica não fez.”
O Ensino Médio reúne hoje as mais preocupantes estatísticas da Educação Básica brasileira. Apenas metade dos jovens com 19 anos declara ter concluído o Ensino Médio. Além disso, as taxas de reprovação bateram recorde histórico no ano passado: 14,1% na rede pública, índice acima da média nacional (que inclui as escolas particulares), que foi de 13,1%. É o índice mais alto desde 1999, último ano em que está disponível para consulta.
Os dados motivaram a instalação de uma Comissão Especial (CESP) para discutir a situação do Ensino Médio na Câmara dos Deputados. O objetivo do grupo é realizar estudos e pesquisas, além de apresentar propostas para a reformulação dessa fase da escolaridade.
“Não se pode fazer da reprovação uma arma”, avalia Wanda Engel. “Ela faz sentido se for feita em cima das competências que são realmente pré-requisitos. Caso contrário, não há razão para reter o aluno em 13 disciplinas se ele não sabe alguma coisa que não é fundamental para ir adiante”, pondera.
Os dados de desempenho também mostram deficiências: apenas 11% dos que se formam nessa etapa da Educação Básica aprenderam o que foi ensinado em matemática.
Para tentar mudar o cenário, no início deste ano, o Ministério da Educação (MEC) aprovou novas diretrizes curriculares para o Ensino Médio. A resolução tem 23 artigos e propõe que as escolas ofereçam, dentro de seus currículos, quatro possibilidades de dimensões temáticas: trabalho, ciência, tecnologia e cultura. A ideia é que a escola seja mais atraente e se aproxime mais do projeto de vida de seus estudantes.
Todos Pela Educação